O que é a essência da vida? A simples formulação desta pergunta já nos transporta para o mundo da reflexão profunda, levando-nos a questionar hábitos, crenças e comportamentos. Será que estamos vivos apenas para trabalhar para ganhar dinheiro, para comprar comida e para nos divertirmos? Será essa a essência da vida? Será por isso e para isso que existimos?
Estar vivo será sinónimo de cumprir normas, preceitos e padrões culturais com breves interrupções em que nos permitimos infringir as regras, bebendo um pouco demais, gastando acima do nosso orçamento ou extravasando numa discoteca ao som de música tecno? Será que viemos ao mundo para estudar, arranjar emprego, comprar casa e carro, casar, ter filhos, trabalhar, ir de férias, trabalhar, ir de férias… reforma… morte… fim da história? Ou será que estamos aqui para evoluir enquanto seres cósmicos e espirituais a viver uma experiência humana? É nesta última hipótese que acredito. Os acontecimentos, os dramas, as personagens e os enredos da nossa história pessoal são apenas o contexto para a nossa jornada evolutiva. A essência da vida é mudança, transformação e crescimento. Infelizmente, a nossa sociedade ocidental está presa naquilo a que Étienne Guillé chamou “o ciclo do produzir-consumir-morrer”. Vivemos mais a vida por via da imitação do que vemos os outros fazerem do que por via da autorreflexão, buscando no nosso interior a clareza de respostas que nos possam servir de guias no caminho. Se olhássemos mais para dentro e nos questionássemos sobre a essência da vida, veríamos que não viemos ao mundo para cumprir horários e rotinas, mas sim para alcançarmos a melhor versão de quem somos. Uma árvore procura crescer em direção ao céu; um rio procura chegar ao mar e os seres humanos procuram a transcendência. É essa a nossa natureza mais profunda. Mas os ritmos alucinantes da época em que vivemos não nos deixam tempo nem espaço para refletir a este respeito. Assim, vamos olhando para o exterior em busca daquilo que achamos que é esperado de nós, e ajustamo-nos ao paradigma vigente sem sequer o questionar. Quando damos por nós estamos exaustos de tanto labutar e continuamos sem saber que raio andamos aqui a fazer. Para nos aliviarmos desse desconforto procuramos alívio no consumo de todo o tipo de bugigangas; em viagens para lugares exóticos ou em maratonas de séries televisivas. Não estamos presentes, estamos em piloto-automático. Não estamos de facto a viver a essência da vida, estamos apenas a lutar pela sobrevivência e a descansar dessa luta nos poucos tempos livres disponíveis. Alguns poderão dizer que sempre foi assim, mas não é verdade. O ser humano sofreu uma cisão entre si e o misterioso, entre si e o sublime, entre si e o transcendente nos últimos trezentos anos, com o advento do materialismo cientifico. Esta visão mecanicista da vida convenceu-nos de que o universo funciona como uma máquina e de que até o nosso corpo se assemelha a uma máquina. Por isso passámos a comportar-nos como se fossemos de facto máquinas. E o que fazem as máquinas? As máquinas fazem operações, executam tarefas, fazem cálculos, executam processos. As máquinas não têm vida mental, emocional e muito menos espiritual. Mas nós temos tudo isso, só que esses aspetos menos pragmáticos da nossa natureza foram excluídos da equação. Para invertermos esta tendência destrutiva, deveríamos ser capazes de parar com frequência. Fazer pausas significativas para explorarmos o que nos vai na alma, deixando-nos conduzir por essa força misteriosa que vem do nosso interior (e que sabe sempre o que está certo); em vez de nos perdermos na catadupa de estímulos exteriores, que apenas nos anestesia da dor profunda que sentimos, pelo facto de nos termos desviado da essência da vida e do nosso caminho original. (Publicado originalmente na Revista Progredir)
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Habitualmente, quando pensamos em destino pensamos em predestinação.Acreditamos que já está tudo decidido à partida e que não há muito que possamos fazer quanto a isso. Ora, esta é uma visão limitada e distorcida da vida, não por não ser em parte verdadeira, mas por ser incompleta, deixando de lado outros factores igualmente importantes como o livre-arbítrio, as sincronicidades e os infinitos potenciais de futuro.
Nas tradições espirituais do Oriente acredita-se na reencarnação, e há quem acredite que antes de reencarnarmos planeamos aqueles que irão ser os grandes marcos da nossa vida futura, de modo a trabalharmos o nosso Karma passado. Segundo esta visão, escolhemos os nossos pais, cultura, país e talvez alguns amigos ou parceiros amorosos, de modo a criarmos as condições mais favoráveis para trabalharmos os nossos padrões karmicos de vidas passadas. No entanto, a forma como vamos reagir aos outros, às circunstâncias ou aos acontecimentos, depende inteiramente de nós. Nada está escrito na pedra. Além disso, o futuro não existe enquanto realidade sólida, existem apenas potenciais que nós materializamos ou não consoante as nossas escolhas a cada momento. Dito isto, importa lembrar que as sincronicidades têm um papel importante na condução da nossa vida. E o que são sincronicidades? São coincidências significativas que podem servir como postes de sinalização no nosso caminho, nesta vida terrena. Para ilustrar o que quero dizer, vamos supor que vai a uma entrevista de emprego, mas está nervoso e um puco atrasado. Na sua mente já construiu um cenário pessimista em que não vai conseguir chegar a horas e vai perder aquela oportunidade. Contudo, ao chegar à paragem de autocarro verifica que o seu autocarro também está ligeiramente atrasado e chega mesmo a tempo de o levar à entrevista. Nessa altura descontrai. Afinal talvez o emprego seja mesmo para si. Quando algo têm mesmo de acontecer tudo se conjuga para que assim seja. Há também quem diga que a História se repete, não só no mundo como também nas nossas vidas individuais, dando-nos a sensação de andarmos em círculos, mas não me parece que seja assim. Na verdade, a evolução não acontece em linha recta, mas em espiral. Isto significa que, por vezes revisitamos temas antigos uma e outra vez, no entanto, sempre que o fazemos, levamos uma nova consciência que não tinhamos antes, o que nos permite fazer escolhas mais eficazes e crescer em consciência e sabedoria. Assim sendo, podemos dizer que o destino existe, até certo ponto, mas com suficientes espaços em branco que nos permitem o livre-arbítrio de escolher e tomar decisões. Pode até dar-se o caso de, antes de reencarnarmos termos previsto ou planeado vários cenários possíveis, e de podermos optar por um ou outro cenário consoante as circunstâncias envolventes. Há efectivamente marcos pré-definidos, como referi anteriormente, e que são visíveis, por exemplo num mapa astrológico. Contudo, o nosso mapa apenas nos mostra as influências astrais a que estamos sujeitos ao longo da vida, e não a forma como iremos reagir a elas. Se existisse um único futuro possível todos os profetas do passado teriam acertado nas suas previsões, o que não é o caso. Porquê? Porque as visões que tiveram mostravam um dos futuros potenciais, se tal não se concretizou foi porque a Humanidade no seu conjunto tomou um rumo diferente. O futuro está a ser construído em cada momento do "Agora". A ideia de que um deus determinista nos impôs um destino de sofrimento é absolutamente falsa. Por outro lado, temos também uma certa tendência para considerar os maus eventos como destino e os bons eventos como sorte. Esta é também ela uma grande falácia, uma vez que as coisas não são boas ou más, nós é que as classificamos assim. Quantas vezes a perda de um emprego se transforma numa oportunidade de encontrar uma nova carreira mais satisfatória? Quantas vezes uma doença se transforma numa oportunidade de mudarmos hábitos de vida e maneiras de pensar? Quantas vezes um divórcio nos dá a oportunidade de encontrarmos o nosso parceiro ideal? Se conseguirmos olhar para o nosso passado com distanciamento, podemos ver que cada evento, cada situação nos enriqueceu de algum modo. Seja como for, fomos nós que escolhemos as principais circunstâncias da nossa vida ao nível da alma. Podemos não compreender porque razão a alma teria escolhido uma vida cheia de desafios e obstáculos, mas todos eles têm um propósito, que é o de nos fazer evoluir. É para isso que aqui estamos neste belo planeta azul. Assim, se quisermos trazer paz e serenidade para as nossas vidas, devemos viver cada momento como se o tivéssemos escolhido, quer o compreendamos quer não. Aceitar o que a vida nos oferece a cada momento, sem resistência é a melhor forma de levarmos uma existência tranquila. Quanto ao futuro, devemos fazer como nos ensinou Paramahansa Yogananda: "Cuide do presente e o futuro cuidará de si próprio. (Publicado originalmente na Revista Progredir) Tudo começou há milhares de anos quando trocámos uma vida nómada de caçadores-recolectores por uma vida sedentária de agricultores e criadores de gado. Chamamos-lhe Revolução Agrícola. Passámos nessa altura a depender da cultura de cereais para sobreviver. Substituímos uma dieta rica e diversificada constituída essencialmente por sementes, nozes, raízes, frutos e bagas por uma mono-dieta de derivados de trigo ou de cevada. Ficámos então, e pela primeira vez, expostos à fome como nunca antes, pois bastavam alguns anos de seca, tempestades ou pragas de insectos para ficarmos sem alimento. Tudo isto se agravou com a domesticação de animais que nos trouxeram inúmeras doenças para as quais os nossos corpos não estavam preparados.
Não satisfeitos com isto, fomos criando sistemas de organização cada vez mais complexos, como cidades, dinheiro, economias, estratificação social e organizações políticas. A tudo isto chamámos progresso, pois agora já não precisávamos de percorrer longas distâncias em busca de alimentos, tínhamos casas para nos abrigarmos, tínhamos lideres que nos governavam e vivíamos em comunidades alargadas. Em momento algum desconfiámos da armadilha deste suposto progresso: o único caminho era em frente. Quando surgiram os conflitos criámos exércitos; quando o nosso território ficou escasso ou empobrecido invadimos os territórios vizinhos espalhando violência, morte e destruição à nossa passagem. No processo criámos e destruímos impérios, matámos e escravizámos milhões de seres humanos. Haveríamos de ser donos e senhores do mundo! Eis-nos chegados à Revolução Industrial, e o nosso progresso hoje, tal como no passado, resume-se à busca desenfreada de soluções para os problemas que nós próprios criámos: para lidarmos com as pragas de insectos criámos os pesticidas; para recuperarmos a saúde perdida inventámos os medicamentos químicos; para produzirmos utensílios baratos inventámos o plástico; para produzirmos energia extraímos petróleo das entranhas da Terra; para nos alimentarmos inventámos as quintas industriais e os matadouros; para alimentarmos os nossos animais destruímos as florestas virgens e os ecossistemas; para um conflito entre superpotências mundiais inventámos misseis e bombas nucleares; para comunicarmos inundámos o espaço com satélites e colocámos na Terra milhões de antenas emissoras de radiações eletromagnéticas; para nos deslocarmos passámos a produzir toneladas de CO2 para a atmosfera; para mascararmos a desconexão que criámos em relação ao sagrado, à intuição, ao mundo natural e ao Universo inventámos a tecnologia. Fizemos tudo isto sem nunca olharmos para trás, sem nunca nos questionarmos: quem somos nós e qual o nosso papel neste planeta? Perdemos a nossa ligação à Natureza e aos ciclos naturais e vemo-nos como estando separados e sendo superiores a eles. O nosso papel passou a ser o de subjugar a Natureza aos nosso caprichos e vontades. O que é que ganhámos? Um passado de morte e destruição; um presente repleto de doenças para as quais inventamos cada vez mais químicos tóxicos que nos envenenam e criam ainda mais doenças; uma economia que beneficia apenas algumas elites enquanto subjuga os mais fracos; sistemas políticos corruptos; competição em lugar de cooperação; ecossistemas destruídos; rios e mares apodrecidos de poluição; milhares de anos futuros de lixo radioactivo… e, como subproduto natural de tudo isto nasceu a nossa obra prima: o stress. Enquanto vivemos em harmonia com a Natureza só sentíamos medo se fossemos perseguidos por um animal selvagem ou se a nossa vida corresse perigo eminente. Neste sentido o medo era-nos útil. Mas hoje vivemos em medo permanente: medo de perder o emprego; medo de perder as poupanças, a casa, a saúde, a sanidade mental; medo da crise económica; medo de uma justiça que não é justa; medo da guerra; medo de uma calamidade; medo de não ser suficiente ou de não estar à altura das expectativas da sociedade; medo do fracasso; medo do que é desconhecido ou diferente; medo da morte. Os nossos corpos não estão preparados, nem foram concebidos para este medo constante. O resultado é a doença, a falta de vitalidade e a infelicidade. Vivemos mais tempo, mas com cada vez menos qualidade de vida. Estamos a matar o planeta e estamos a matar-nos lentamente a nós próprios, e sempre que encontramos uma suposta solução para um problema, com ela, criamos mais um ou vários novos problemas. Estamos a correr atrás do prejuízo. E tudo porque não sabemos quem somos nem o que estamos aqui a fazer. Criámos um mundo baseado na ideia de que tudo está separado de tudo quando na verdade tudo está intimamente ligado a tudo. Nada nem ninguém existe sem o suporte deste planeta, deste sistema solar, desta galáxia e de todo o Universo. Existimos e fazemos parte de uma tapeçaria cujo equilíbrio é magnífico, porém delicado. Um vírus – que nem sequer é um ser vivo, é apenas material genético encapsulado numa proteína – surgido em Wuhan na China, pode fazer parar o mundo inteiro durantes meses, levando ao colapso de economias, e em última instância obrigando o mundo a repensar o caminho que tem vindo a seguir até aqui. Um vírus, aliás, cujo aparecimento em humanos resulta da nossa teimosia em interferir com a vida natural sem sequer a compreendermos. Que grande lição de humildade e que grande ironia! Não somos afinal assim tão poderosos, pois não? E onde está afinal o tão famoso progresso? A medicina está a braços com um fenómeno que não compreende e para o qual todas as invenções anteriores parecem falhar; a economia não leva em linha de conta situações de calamidade naturais (apesar de muitas terem já ocorrido no passado); a política está refém da economia e é arrastada por ela e os seres humanos, indefesos contra um microrganismo invisível, apenas podem lavar as mãos de forma quase obsessiva-compulsiva. É como se a própria Natureza nos estivesse a dizer: “Agora isolem-se nas vossas casas sem distrações e reflitam no mundo que criaram. Reflitam sobretudo naquilo que têm vindo a fazer ao longo dos últimos duzentos anos e tirem as vossas conclusões.” Quando chegará o dia em que iremos finalmente compreender que a Natureza não precisa de nós, mas nós precisamos da Natureza? (Publicado originalmente na Revista Zen Energy) Há dias li um livro sobre a solidão. É um relato pessoal, escrito na primeira pessoa, mas também fruto de muita pesquisa, a diversos estudos científicos, que foram feitos sobre a solidão desde os anos 60 em diante. Conclui-se que a solidão pode ser crónica ou circunstancial e que a solidão crónica está associada a uma predisposição genética. A autora do livro, Emily White, assume que sofre de solidão, apesar de ter uma rede de amigos e de familiares próximos. No final ela percebe que nada está a ser feito acerca da solidão e sugere que este estado deveria ser incluído no DSM (Diagnostic and Statistic Manual of Mental Disorders) e ser tratado como uma doença mental. Discordo totalmente desta abordagem e já explico porquê.
Há pouco tempo também me cruzei com um estudo, através do qual se comprovava, que as pessoas que sofrem de depressão na verdade vêem e vivem a realidade de forma mais objectiva do que as que nunca sofreram de depressão. Não tendo por base nenhum estudo científico e tendo por guia apenas a minha intuição, parece-me que as pessoas que sofrem de solidão, depressão e outras chamadas "doenças mentais", são na verdade pessoas mais profundas que a maioria; que vivem e absorvem tudo com mais intensidade, quer sejam emoções positivas ou negativas. São pessoas com a sensibilidade à flor da pele e cujos sintomas surgem como reacção a algo exterior que as agride interiormente. São pessoas que talvez não se ajustem a um emprego das 9 às 5; que talvez não se ajustem aos modelos de relacionamento que construímos, vivendo cada vez mais isolados uns dos outros; que talvez não se ajustem ao ideal social: casa, casamento, emprego, 2 filhos; que talvez não se ajustem às múltiplas pressões sociais, politicas e económicas. Em suma, são pessoas que talvez não se ajustem a este modelo de sociedade, tal como as crianças com ADHD não se ajustam ao nosso modelo de escola. E nós, enquanto sociedade o que fazemos? Classificamos estas pessoas como doentes mentais e medicamo-las, dizendo que ou elas se "tratam" ou não servem, estão "avariadas". Porquê? Precisamente porque não se ajustam à sociedade que criámos. E a pergunta que eu coloco é: e será que se deveriam ajustar? De um ponto de vista espiritual, quem sabe se estas pessoas não vieram a este mundo com o propósito de o transformar, sendo por isso que não se ajustam? Pelos padrões actuais, se Jesus viesse hoje ao mundo e fosse encontrado a fazer "O Sermão da Montanha" vestido de túnica e sandálias seria certamente internado num hospital psiquiátrico e severamente medicado. E se Buda fosse hoje encontrado a meditar debaixo da árvore de Bhodi durante 7 dias teria, provavelmente, o mesmo destino. Por isso não concordo que se classifique a solidão como mais uma doença mental, assim como não concordo com muitas outras que constam do DSM. Acredito, isso sim, que deveriamos antes, ouvir as queixas destas pessoas e começar a mudar o que fosse possível na sociedade, de acordo com essas queixas. Porque se o fizéssemos estaríamos a beneficiar, não apenas os que se queixam, mas todos os indivíduos deste planeta. Como disse Krishnamurti "Não é sinal de saúde estar perfeitamente ajustado a uma sociedade profundamente doente" e isto por si só deveria fazer-nos reflectir. Equanimidade é um estado de aceitação, gratidão e tranquilidade por tudo o que nos acontece. Nem apego nem aversão apenas deixar a vida fluir sem esforço. Uma das bases do budismo são as Quatro Nobres Verdades, a primeira das quais é que “a vida é sofrimento (dukka)”, mas o sofrimento vem essencialmente do nosso apego ou aversão às condicionantes que a vida nos apresenta. Assim, o desejo e as expetativas criam sofrimento porque nos apegamos a um resultado, e quando esse resultado não se concretiza, sofremos. Por outro lado, quando o objeto do nosso desejo ou da expetativa se materializa, tememos perde-lo, o que também causa sofrimento. Por vezes também criamos aversão a coisas, pessoas e situações, que queremos a todo o custo afastar das nossas vidas. Isso também é uma fonte de sofrimento. Enquanto a nossa mente oscila entre apego e aversão não temos serenidade. Há sempre um desejo a ser satisfeito, um resultado a ser protegido ou alcançado, ou algo de que fugir. Neste estado mental não há descanso, nem pode haver verdadeira felicidade. Assumimos muitas vezes, erradamente, que a felicidade se alcança por meio do que conseguimos extrair ou usufruir do mundo exterior, contudo, várias filosofias ensinam, e entre elas o budismo, que a verdadeira felicidade em nada se relaciona com ganhos exteriores, que é antes um estado de ser. O modo de vida da sociedade ocidental, o marketing e a publicidade, levaram-nos a acreditar que só seremos felizes se tivermos o mais recente gadget topo de gama, a roupa da última moda, o carro mais desportivo e vistoso, a casa mais moderna e bem equipada, enfim, os items a adquirir não acabam nunca e nunca estamos verdadeiramente satisfeitos. Será isto a felicidade? De que nos serve a fama, a riqueza ou o sucesso, se mantemos uma mente inquieta e sempre em busca de mais? De que nos serve o ódio ou a aversão a pessoas ou situações se quem perde a tranquilidade somos nós? Acreditamos muitas vezes que ter mais, seja do que for, nos dá segurança e felicidade. Esta ideia parte do pressuposto errado de que temos controlo absoluto sobre os eventos da nossa vida. Não temos. Na verdade, controlamos muito poucas coisas no nosso quotidiano. E é o aceitar essa ausência de controlo, o soltar o apego ou a aversão, o simplesmente deixar a vida fluir, que se traduz por equanimidade (upekkha). É importante não confundir a equanimidade com indiferença pois não são a mesma coisa. Indiferença não significa aceitação, significa apenas que não temos uma ligação com a situação, pessoa ou acontecimento, já na equanimidade há um sentimento de aceitação do que é sem qualquer tentativa, esforço ou expetativa de alterar a realidade. Claro que, para atingir um estado mental que nos permita ser equânimes, há algumas ideias que devem estar na base do modo como conduzimos a nossa vida. Uma dessas ideias, também transmitida no budismo, é a de que tudo, neste mundo tridimensional, é impermanente. Nada nesta realidade existe para sempre, logo, querermos agarrar-nos às coisas como se fossem eternas, causa sofrimento. Um exemplo disso é a perda de um ente querido. Sofremos sempre muito quando alguém que amamos parte deste mundo, contudo, a morte é algo absolutamente intrínseco à vida. Para haver vida é preciso haver morte. É da escuridão do Inverno que nasce a Primavera. Tudo na natureza se move em ciclos de morte e renascimento e assim é com todos nós. Se aceitarmos plenamente a ideia de impermanência não nos agarraremos às coisas e às pessoas como tábuas de salvação, em vez disso, aprendemos a soltar, a deixar ir o que tem de ir, o que já cumpriu a sua função nas nossas vidas e no mundo. Claro que podemos ficar tristes e até sentir muito a falta de um ente querido, mas o sofrimento agonizante só nos desgasta e não altera a situação. É sábia a capacidade de aceitarmos a morte como algo natural e expectável. Um outro exemplo é a perda de um emprego. Quantas vezes perder um emprego é uma oportunidade para construirmos um novo rumo para nós? Um rumo que de outra forma nem teríamos considerado? E quantas são as pessoas que permanecem agarradas à dor da perda e a esgotarem-se na tentativa de abrir a mesma porta que acabou e se fechar para elas? Se aprendermos a soltar e a mantermo-nos num estado de aceitação, abertos ao que de novo possa surgir, estaremos a fluir com o movimento rítmico da vida, tal como um rio que se permite ser conduzido para o mar sem oposição. Também beneficiaríamos bastante de aceitar a Primeira Nobre Verdade do budismo: não é possível viver toda uma vida sem passar pelo menos por alguns momentos de sofrimento. Querermos a felicidade permanente é uma ilusão, e uma ilusão que causa ainda mais sofrimento. É importante termos a capacidade de abraçar os momentos menos bons como parte da vida. É muitas vezes graças a eles que crescemos e nos transformamos além do que julgaríamos possível. Pode parecer difícil aplicar a equanimidade nas nossas vidas, mas não será mais difícil manter o jogo do “puxa-empurra”, que nos mantém num estado de permanente alvoroço entre o apego e a aversão? A melhor forma de praticarmos a equanimidade no nosso dia-a-dia é através do treino da mente: meditar, ser testemunha dos pensamentos sem nos apegarmos a eles. Se uma coisa nos faz felizes devemos aceitar, ser felizes no momento e soltar; se uma coisa nos deixa tristes devemos aceitar, ficar tristes no momento, talvez chorar um pouco, e soltar. A equanimidade permite-nos aceitar e ser gratos por todos os eventos da nossa vida, bons ou menos bons, sem lutar contra eles e sem querer forçar a vida a moldar-se à nossa vontade, pois a vida sabe o que faz. (Publicado originalmente na Revista Progredir) Numa época em que tudo nos diz que o materialismo exacerbado não é solução, em que o que tínhamos antes como fontes de segurança é posto em causa, é natural as pessoas questionarem-se (umas mais que outras) sobre o sentido de tudo isto.
Por vezes, sobretudo para quem está a entrar na meia-idade, surge um certo vazio interior. Inexplicável mas presente, espesso e opressivo. O que em certo sentido é muito bom. Significa que há uma abertura para o novo. É o começo da busca de sentido para a vida ou da busca de si próprio através do auto-conhecimento. Nesta fase não desespere, e não busque uma compensação exterior a si. Atreva-se a ouvir esse silêncio interior e a sentir o que ele lhe pede. Você é a pessoa mais importante da sua vida! Não quer dizer que deve descuidar aqueles que lhe são queridos, mas sim que deve cuidar de si em primeiro lugar. Você é a única pessoa que o vai acompanhar, de certeza absoluta, pelo resto da vida. Pense nisso. Qual é a qualidade da relação que tem consigo? Qual o sentimento que nutre por si? é amor? ou raiva e desprezo? ou uma simples indiferença? ou nem sequer pensa no assunto? Saiba que enquanto não aprender a amar-se não estará aberto ao mundo. Amar-se é respeitar e aceitar cada pedacinho de si seja ele luminoso ou sombrio. Depois pode iniciar o processo de mudança daquilo que achar que deve ser mudado. Nunca é tarde para o fazer. Acima de tudo ame-se e o amor pela vida e pelo que o rodeia virá por acréscimo. Lembra-se do anúncio do leite: "Se eu não gostar de mim, quem gostará?" É isso mesmo, amar-se é também mostrar aos outros que é digno de amor. Inicialmente pode ser um pouco assustador e até potenciar um certo sentimento de culpa, porque não fomos educados para pensar em nós. Ensinaram-nos que devemos sobretudo pensar nos outros. Ensinaram-nos a olhar para o exterior e com isto temos vindo gradualmente a negligenciar o nosso interior. Apesar de o receio e a culpa serem naturais no inicio deste processo não se limite por eles. Liberte-se dos dogmas que talvez lhe tenham sido passados pelos seus progenitores ou educadores ou até pela própria sociedade. Abra-se para o desconhecido e confie na sua sabedoria interior que está sempre ao seu dispor se se permitir dar-lhe ouvidos. E lembre-se, tudo começa com uma sensação de vazio, de incompletude ou de desassossego. Não se entregue a essa sensação mas também não a mascare com desculpas esfarrapadas. Explore-a e veja onde ela o leva. Seja feliz, Abrace a Vida! O fato-e-gravata mais a pasta-do-portátil, saem para a rua todas as manhãs, para mais um dia de trabalho. Depois encontram-se com outros fatos-e-gravatas e fazem reuniões intermináveis, tediosas e inconclusivas.
No final do dia, os fatos-e-gravatas entram nas suas caixas-de-metal-sobre-rodas, e voltam para as suas caixas-de-cimento para passar a noite. Por norma, comem mais um bife-com-ovo-e-batatas-fritas e depois estendem-se no sofá, a olhar para uma caixa-preta, de onde saem imagens e sons alienantes e impregnados de superficialidade. Cinzento, tudo cinzento até que são horas de fechar os olhos recarregar a bateria para o dia seguinte. Ouve-se o alarme do despertador e de novo o ciclo repete-se, excepto pelo facto de a gravata hoje ser de outra cor. Uma cor qualquer que combine com cinzento. Assim se passam dez, vinte, trinta anos e o único arco-íris que aparece esporadicamente, acontece uma vez por ano, quando o fato-e-gravata dá lugar aos calções-e-havaianas e ruma em direcção às praias de Punta Cana. Num belo dia, tão cinzento como os outro, o fato-e-gravata cai redondo no chão e ouvem-se ao longe as sirenes de uma ambulância. Vai a caminho do hospital. Ao que parece o coração não aguentou tantos anos de cinzento e teve um ataque. Na cama de hospital, agora com a humildade de uma bata-aberta-atrás, e sem qualquer roupa-interior. Respirando por um tubo e vendo a vida presa por um fio que oscila a verde num monitor, o ex-fato-e-gravata pensa finalmente nos seus dias cinzentos, e questiona se não haverá mesmo outras cores com que os pintar. O ex-fato-e-gravata quer agarrar-se a algo que o eleve daquele leito com cheiro a morte mas não encontra nada. No mais recôndito da sua mente passa apenas um filme mudo, entediante e em tons de cinzento. O tempo! O que é que eu fiz com o tempo? - pergunta finalmente em desespero. O tempo limitou-se a passar sem que ele o notasse até ser tarde de mais. E foi então que percebeu… a vida acontece-nos a cada instante. A vida não pode ser adiada para usufruir mais tarde, quando der mais jeito. É preciso estar presente no presente e em cada momento. Criar laços, dar abraços, brincar… sorrir, divertir, chorar… E chora. Chora pela primeira vez desde que tinha sete anos e esfolou um joelho. Já esquecera o sabor salgado das lágrimas, que agora o faz sentir-se vivo como há muito não se sentia. Ás vezes, a Vida não tem outra opção, a não ser atirar-nos ao chão, para que lhe prestemos a devida atenção. Alguns, ainda vão a tempo de se levantarem, outros, estão tão danificados que se tornaram irrecuperáveis. E você? De que está à espera para começar a viver? Seja feliz, Abrace a Vida! Plutão entrou em Capricórnio em 2008, onde permanecerá até 2024.
Vão ser 16 anos de "expurgo" do lixo acumulado nas estruturas mais rígidas dos sistemas mundiais. Sistemas políticos, económicos, sociais, laborais e todas as estruturas ligadas ao poder e ao uso do poder vão ser "abanadas" quer individual, quer colectivamente. Plutão, astrologicamente falando, é considerado o planeta da morte e renascimento. É o destruidor mas também o transformador. A sua energia assemelha-se à de um vulcão que traz à superfície todas as impurezas que já não podem ficar ocultas ou latentes. Que faremos nós com esta energia? Depende de cada um. A astrologia, ao contrário do que alguns julgam, não impõe o comportamento X para a situação Y. Ao invés disso ela mostra-nos em que áreas da nossa vida podem ocorrer maiores tensões e ajuda-nos a lidar com elas mas o "como" dependerá sempre do nosso livre-arbítrio. No que concerne à energia deste transito, ela será forte e por isso mesmo, quanto menor resistência lhe oferecermos maiores serão as probabilidades de a utilizarmos a nosso favor, em proveito da nossa própria transformação interior. Será um bom período para reflectirmos sobre quem somos e em que medida, a forma como nos mostramos ao mundo, é ou não coincidente com quem somos de facto interiormente. Qual é a minha verdade? (não a do meu pai, não a do meu patrão, não a do meu credo mas a minha) E como aplico essa verdade? Que uso faço dela? Quais são as minhas escolhas? Faço-as em nome de quê ou de quem? Quais são os meus valores? Eles representam quem eu sou? Estas são algumas das perguntas que seremos chamados a fazer durante este transito. O desafio será grande mas se não-lhe fugirmos, os ganhos serão proporcionais. O melhor conselho que posso dar a todos, incluindo a mim própria, neste momento é este: Sejamos como o bambu que se verga sob o vendaval para não quebrar. |
Fátima LopesApaixonada pela vida e pelo Ser Humano! Arquivo
October 2021
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