Há dias li um livro sobre a solidão. É um relato pessoal, escrito na primeira pessoa, mas também fruto de muita pesquisa, a diversos estudos científicos, que foram feitos sobre a solidão desde os anos 60 em diante. Conclui-se que a solidão pode ser crónica ou circunstancial e que a solidão crónica está associada a uma predisposição genética. A autora do livro, Emily White, assume que sofre de solidão, apesar de ter uma rede de amigos e de familiares próximos. No final ela percebe que nada está a ser feito acerca da solidão e sugere que este estado deveria ser incluído no DSM (Diagnostic and Statistic Manual of Mental Disorders) e ser tratado como uma doença mental. Discordo totalmente desta abordagem e já explico porquê.
Há pouco tempo também me cruzei com um estudo, através do qual se comprovava, que as pessoas que sofrem de depressão na verdade vêem e vivem a realidade de forma mais objectiva do que as que nunca sofreram de depressão. Não tendo por base nenhum estudo científico e tendo por guia apenas a minha intuição, parece-me que as pessoas que sofrem de solidão, depressão e outras chamadas "doenças mentais", são na verdade pessoas mais profundas que a maioria; que vivem e absorvem tudo com mais intensidade, quer sejam emoções positivas ou negativas. São pessoas com a sensibilidade à flor da pele e cujos sintomas surgem como reacção a algo exterior que as agride interiormente. São pessoas que talvez não se ajustem a um emprego das 9 às 5; que talvez não se ajustem aos modelos de relacionamento que construímos, vivendo cada vez mais isolados uns dos outros; que talvez não se ajustem ao ideal social: casa, casamento, emprego, 2 filhos; que talvez não se ajustem às múltiplas pressões sociais, politicas e económicas. Em suma, são pessoas que talvez não se ajustem a este modelo de sociedade, tal como as crianças com ADHD não se ajustam ao nosso modelo de escola. E nós, enquanto sociedade o que fazemos? Classificamos estas pessoas como doentes mentais e medicamo-las, dizendo que ou elas se "tratam" ou não servem, estão "avariadas". Porquê? Precisamente porque não se ajustam à sociedade que criámos. E a pergunta que eu coloco é: e será que se deveriam ajustar? De um ponto de vista espiritual, quem sabe se estas pessoas não vieram a este mundo com o propósito de o transformar, sendo por isso que não se ajustam? Pelos padrões actuais, se Jesus viesse hoje ao mundo e fosse encontrado a fazer "O Sermão da Montanha" vestido de túnica e sandálias seria certamente internado num hospital psiquiátrico e severamente medicado. E se Buda fosse hoje encontrado a meditar debaixo da árvore de Bhodi durante 7 dias teria, provavelmente, o mesmo destino. Por isso não concordo que se classifique a solidão como mais uma doença mental, assim como não concordo com muitas outras que constam do DSM. Acredito, isso sim, que deveriamos antes, ouvir as queixas destas pessoas e começar a mudar o que fosse possível na sociedade, de acordo com essas queixas. Porque se o fizéssemos estaríamos a beneficiar, não apenas os que se queixam, mas todos os indivíduos deste planeta. Como disse Krishnamurti "Não é sinal de saúde estar perfeitamente ajustado a uma sociedade profundamente doente" e isto por si só deveria fazer-nos reflectir.
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Fátima LopesApaixonada pela vida e pelo Ser Humano! Arquivo
October 2021
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